sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Plano de Parto Comentado

Estive revendo meu Relato de Parto e notei que não criei nenhum link para o tão importante Plano de Parto que eu escrevi durante a gestação.

Resolvi então publicar aqui meu Plano de Parto, aproveitando ainda para fazer comentários sobre o que eu planejei e o que realmente aconteceu no parto da Lina.

Para escrever meu plano de parto me apoiei em vários modelos que vi na internet. Fui pegando uma ideia de cada mãe e adaptando às nossas vontades. Um dos planos que usei como modelo foi o da Gabi Sallit, para o parto do João.

E para quem não sabe, o Plano de Parto é uma recomendação da OMS há mais de décadas, mas infelizmente ainda é pouquíssimo difundido no Brasil.

Espero que gostem!



PLANO DE PARTO – Katherine

Bebê: Lina

Marido: Anderson

Obstetra: Dra Quesia Villamil

Doula: Isabel

Data provável do parto (DPP): 24/09/13 O parto aconteceu no dia 10/09/2013.

 

"Estamos cientes de que o parto pode tomar diferentes rumos. Abaixo listamos nossas preferências em relação ao parto, caso tudo transcorra bem. Gostaríamos de ser consultados antes de qualquer intervenção/procedimento de rotina/alternativas que se fizerem necessários.” Fomos consultados sobre absolutamente todos os procedimentos.

 

Trabalho de parto:

- Desejo ser deslocada ao hospital o mais tardar possível, tentando permanecer o maior tempo possível do início do trabalho de parto em ambiente domiciliar, caso não haja indicação inversa do obstetra ou doula. Pretendo me internar na fase ativa, ou seja, com pelo menos 5 cm de dilatação e 3 contrações em 10 minutos. Não foi o caso pois estava com bolsa rota e não tinha onde me hospedar em Belo Horizonte. Por um despreparo meu acabei internando precocemente.

- Quero a presença de meu marido e/ou doula em tempo integral. Desejo atendido!

- Desejo um ambiente calmo, tranquilo, agradável, com iluminação adequada, aromas e música, para que eu possa relaxar o máximo possível. Desejo plenamente atendido!

- Desejo o menor número possível de pessoas no ambiente, evitando agitação. Desejo atendido! Família mora longe e só ficaram na sala eu, meu marido, doula e de vez em quando aparecia a obstetra.

- Desejo ser questionada o mínimo possível e de ser respeitada caso eu não queira conversar e responder durante as contrações, evitando que conversas tirem minha concentração. Foi tudo perfeito!

- Quero uso ilimitado da banheira e/ou chuveiro para alívio da dor e relaxamento. Desejo atendido!

- Quero ter liberdade para beber água, sucos e me alimentar. Bebi muito na fase latente!

- Quero liberdade para caminhar e escolher a posição que quero ficar (não quero ficar presa no cardiotoco para não limitar minhas posições). Mudei de posição diversas vezes, conforme minha vontade!

- Não quero ter meu trabalho de parto acelerado desde que eu e meu bebê estejamos bem. Meu parto foi acelerado, infelizmente. Como dito anteriormente, por escolhaminha internei precocemente, o que me fez tomar ocitocina sintética por 20 minutos, coisa do qual me arrependo profundamente.
- Desejo que o exame de toque fosse realizado o mínimo possível, caso eu me sinta incomodada. Durante o tempo em que estive no hospital foi realizado um exame de toque. Talvez hoje eu não aceitasse novamente.

- Não pretendo usar analgesia. Se eu precisar, pedirei e neste caso, se possível, iniciar com baixa dosagem e aumentar conforme necessidade. Pedi anestesia quando estava próximo do expulsivo, mas me convenceram a não tomar. Ainda bem!!

- Não quero ruptura artificial da bolsa, por mera rotina, sem meu consentimento. Bolsa rompeu um dia antes do nascimento, antes do início das contrações, o que me levou a uma internação precoce e consequentemente tomei ocitocina sintética.

- Não quero tricotomia (raspagem dos pelos pubianos) e enema (lavagem intestinal). Não queria e não fiz.

- Não quero que mantenham acesso a minha veia de rotina (assim como perfusão contínua de soro e ou ocitocina sem meu consentimento). Foi colocado acesso apenas quando necessário. Tomei ocitocina por minutos, e depois desligaram os tubos, o que me deixou livre para escolher as melhores posições.

- Se a posição da criança ou da placenta for desfavorável ao parto normal quero aguardar pelo trabalho de parto ou, na impossibilidade, pelo menos os pródromos. Não foi o caso.

- Quero que tirem fotos de todo o trabalho de parto e pós-parto, sem restrições, a não ser que eu me sinta incomodada. Não tiraram muitas fotos, mas as poucos ficaram ótimas!.

 

Expulsivo:

- Decidirei na hora, com orientação da doula e obstetra, qual será o local e a posição mais confortáveis para o expulsivo. Fique totalmente livre para escolher minha posição tanto no TP quanto no expulsivo.
 
- Prefiro fazer força só durante as contrações, quando eu sentir vontade, em vez de ser guiada, a não ser que eu solicite orientação. Não fui guiada e fiz força somente quando eu quis.

- Desejo que meu bebê nasça em  ambiente calmo e silencioso (pouca iluminação e ar condicionado desligado na hora do nascimento). Foi exatamente assim!

- Desejo ter um espelho para ver a saída do bebê e que me orientassem a tocar a cabeça do bebê em algum momento do expulsivo. Tive um espelho em alguns momentos do expulsivo, toquei a cabeça da Lina, e como estava de cócoras, a vi no momento em que saía de mim. Sensação e imagem indescritíveis que carregarei para o resto da vida.

- Desejo que meu períneo seja amparado, a fim de evitar laceração (pode usar massagem perineal, compressas mornas e posicionamento primeiro). Não precisou ser amparado, não precisou de massagem e não tive laceração!

- Não quero episiotomia – a menos que seja absolutamente necessário; neste caso, me consultar antes do procedimento (prefiro o risco de laceração do que episiotomia).  Não precisei de episio e zero laceração!

- Não quero que puxem o bebê, deixem que venha no tempo dele, apenas amparando-o (o pai deseja amapar, se possível). Não puxaram minha bebê, mas a obstetra que amparou. No momento da saída eu estava no banquinho de parto e meu marido me apoiando por trás, o que não permitiu que ele amparasse a Lina!

- Não quero manobras para a saída do bebê – a menos que seja estritamente necessário. Não precisou.

- Não quero luz forte no rosto do bebê no momento em que ele sair. Houve apenas uma lanterninha fraca para exames após o nascimento.

- Quero ter meu bebê colocado imediatamente no meu colo após o parto com liberdade para amamentar a hora que eu quiser. Lina veio imediatamente para o meu colo, mas como eu quis deitar porque estava dolorida, demorei mais ou menos 30 minutos até colocá-la para mamar.

- Eu ou o pai gostaríamos de secar o bebê após o nascimento. Caso não seja possível, secar com suavidade, sem esfregar. Logo após o nascimento Lina veio ao meu colo e nós mesmos a secamos.

- Quero que o cordão seja cortado apenas quando parar de pulsar – de preferência pelo pai. Papai cortou após parar de pulsar (uns 6 minutos após o nascimento)

- Prefiro fórceps ou vácuo, a uma cesárea. Não precisou.

 

Após o parto:

- Prefiro aguardar expulsão espontânea da placenta com auxílio da amamentação. Desejo ser consultada antes de qualquer intervenção necessária (massagem, tração ou infusão intravenosa de ocitocina). Houve uma massagem pois eu reclamava muito de dor. Após a massagem a placenta saiu e as médicas puderam me examinar.

- Quero que me mostrem a placenta após sua saída. Não vi a placenta após a saída. Estava fora de mim e só queria saber da bebê. Mas a vi depois, quando a plantamos.

- Quero o bebê comigo o tempo todo, mesmo para avaliação e exames. Foi levada por 10 minutos para exames, com o pai e a pediatra. Isso eu poderia ter feito diferente...

 - Não quero que seja feita sucção das vias respiratórias caso o bebê esteja bem. Se for necessária, fazer a sucção enquanto o bebê estiver comigo. Lina estava com um pouquinho de agua no nariz após nascer, então permiti que a pediatra aspirasse com a perinha, mas ela mal encostou a pontinha da pera no narizinho dela para aspirar.  Foi tudo muito delicado.

- Quero manter meu filho no colo o tempo que eu quiser após o nascimento. Pedido realizado. Não desgrudei dela um minuto.

- Não quero que seja administrado nitrato de prata nos olhos do bebê. Desejo respeitadíssimo.

- Quero administração de vitamina K oral (nos comprometemos continuar com as doses). Caso não seja possível, dar a injeção com a bebe mamando no meu colo) Tomou injeção de vitamina K com o papai, e nem chorou. Apesar de isto estar no meu plano de parto, após conversar com a pediatra decidi dar a injeção.

- Não oferecer água glicosada, fórmulas ou bicos. Desejo respeitado.

- Queremos alojamento conjunto o tempo todo. Caso seja necessária a separação o pai deverá acompanhá-lo o tempo inteiro. Desejo respeitado.

- Desejo que a avaliação pediátrica seja feita no quarto e na presença de um dos pais. Desejo respeitado.

- Não quero que seja realizada limpeza com óleo mineral ou que dêem banho no bebê. Desejo respeitado. Lina tomou banho apenas no dia seguinte (mais de 24 horas depois do nascimento).

- Caso seja necessário algum procedimento de urgência me avisar dos detalhes e porque está sendo feito. Não precisou.

 

Caso a cesárea seja necessária: Não precisei graças a Deus!

- Desejo a presença de meu marido e da doula.

- Anestesia peridural se possível, sem sedação.

- Não quero minhas mãos presas. Caso não seja possível quero que me soltem para que eu possa segurar meu bebê quando nascer.

- Quero que as luzes e ruídos fossem reduzidos e o ar condicionado desligado.

- Quero ser consultada se desejo remover o campo para ver o bebê nascer.

- Após o nascimento quero que coloquem o bebê sobre meu peito imediatamente, sem separação.

- Desejo poder amamentar já na sala de cirurgia.

- Desejo permanecer com o bebe no contato pele a pele enquanto estiver na sala de cirurgia sendo costurada.

- Alojamento conjunto o quanto antes.



Observações:- Se eu não tiver condições de decidir sobre alguma intervenção meu marido está apto a decidir por nós.

 

 

 



quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Declaração da OMS e O caso da Violência Obstétrica no Brasil e no Mundo




“No mundo inteiro, muitas mulheres sofrem abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto nas instituições de saúde. Tal tratamento não apenas viola os direitos das mulheres ao cuidado respeitoso, mas também ameaça o direito à vida, à saúde, à integridade física e à não-discriminação. Esta declaração convoca maior ação, diálogo, pesquisa e mobilização sobre este importante tema de saúde pública e direitos humanos.”
Organização Mundial da Saúde

 
Como já disse neste blog, mais especificamente neste post aqui, entendo perfeitamente as mulheres do Brasil que têm por preferência, ás vezes desde o início da gestação, a cesárea eletiva.

Relaciono esta pavorosa onda de cesárea eletiva que ocorre no Brasil, principalmente nos hospitais particulares, não só à comodidade dos médicos ou à questões financeiras, mas também ao fato da Violência Obstétrica.

Lembro, desde criança, de ouvir histórias horríveis sobre parto normal. E ainda escuto. É mãe que fica amarrada na cama, pai que não pode acompanhar a gestante durante o trabalho de parto, corte indiscriminado na região genital, proibição de se alimentar, movimentar ou de escolher a melhor posição para o expulsivo, além de ouvir coisas como “na hora de fazer você não gritou né?” ou “pare de gritar se não teu bebê vai nascer surdo”.

Tudo isso é muito mais normal de acontecer do que a gente imagina. Lembro de uma amiga de minha mãe que estava contando sobre o parto normal de sua filha e ela dizia: “Não podemos nem chamar de parto normal. Aquilo é parto “anormal”, isso sim!!”

Pois é. É por isso mesmo que muitas mulheres escolhem a cesárea sem nem pestanejar. Toda essa violência em relação ao parto normal que foi criada ao longo do tempo no Brasil causou essa preferência pela cesárea. Ela é prática e quase indolor, na maioria dos casos. Mas ela não é tão saudável quanto o parto normal, infelizmente. Sabemos que a OMS recomenda um máximo de 15% de cesáreas, que seriam as cesáreas que realmente necessárias, as que realmente salvam vidas. Hoje, no Brasil, existem hospitais com praticamente 100% de cesáreas. Claro, a maior parte, cesáreas eletivas. E eletivas por que? Porque as mães criaram consciente ou subconscientemente um medo gigantesco do tal parto “anormal”.

Sim, o parto normal hoje no Brasil, aquele convencional, cheio de intervenções desnecessárias, é horroroso. É uma Violência Obstétrica por si só.

E é por isso que a OMS vêm novamente em auxílio à saúde coletiva e lança um documento maravilhoso que você pode acessar abaixo.



 

 
 #VOBR2014

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

As primeiras quatro estações completas!



Hoje nossa pequena faz 1 ano de idade. Comemoramos, claro, o seu nascimento, mas comemoramos também o meu renascimento como mulher e o nascimento da nossa família.
Há um ano atrás, eu estava sentindo as dolorosas contrações que trariam minha filha para o mundo. Temos que comemorar. Nós conseguimos!
Conseguimos recepcionar a Lina nesta Terra da maneira que julgamos a mais respeitosa possível. Há um ano a Lina nascia em um quarto escuro, silencioso, através de parto normal, através das minhas forças naturais, apoiadas pelo grande amor do pai dela, e ao canto dos passarinhos ao amanhecer.
Há exatamente um ano sentíamos a energia mais maravilhosa que existe no mundo: o nascimento. E foi realmente incrível! Lina foi imediatamente colocada em meus braços e pudemos olhá-la tranquila, abrindo os olhos sem chorar.
E neste um ano que passou, dentre todas as dificuldades da maternidade/paternidade, tenho que dizer: foi o ano mais incrível de nossas vida! Cada segundo olhando seu rostinho, cada momento de descobertas, de desenvolvimento, de beijos e abraços. Foi tudo perfeito demais!
Para mim, foi um ano lendo e estudando muito e tomando difíceis decisões sobre diversos assuntos relacionados à maternidade. Decidimos usar fraldas de pano, não dar qualquer tipo de alimento industrializado, não dar açúcar, não pôr para assistir TV. Decidimos que ela dormiria em nossa cama.
Temos que comemorar. Todas nossas escolhas conscientes têm dado certo.
Em um ano, Lina aprendeu a ficar de pé, já dá uns passinhos e até dança um rebolado. Já tomou banho de mar e de cachoeira e até pegou carrapato. Ela dá muita risada, ganhou dois dentes, e já finge que fala algumas palavras. Lina come de tudo e já manda ver no arroz e feijão – sempre com algum legume e verdura. Adora fruta. Adora cachorro. Adora passarinho. Adora livro. E nem liga pra televisão.
É, temos que comemorar.
Lina, que Deus abençoe todos os seus próximos anos de vida, assim como abençoou este seu primeiro ano.
Parabéns filha!

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Andar, Falar, Pensar - O Andar


Uma das primeiras coisas que aprendi em relação à pedagogia Waldorf foi esse trinômio andar-falar-pensar. Foi a pediatra da Lina, em uma de suas primeiras consultas, que indicou diversos livros sobre antroposofia e Waldorf, e um deles era este aqui, do Rudolf Steiner.

Ainda não li o livro, mas sei que segundo a antroposofia, são essas habilidades que o ser humano adquire nos três primeiros anos de vida, o que torna esse período tão importante e especial no desenvolvimento da criança.

Resolvi falar sobre este assunto pois a Lina, minha filha de 11 meses, já está começando a tomar coragem para dar seus primeiros passinhos e tenho observado admirada o seu desenvolvimento.

O andar da criança se relaciona com a descoberta do meio ambiente que a cerca, e trata-se de um processo que é desenvolvido durante todo o primeiro ano do bebê, a fim de que no fim do processo ele por fim entenda é um “peça” pertencente à esse mundão de Deus, e que, agora, ela pode explorá-lo sozinha, tendo liberdade de movimentação.

É possível observar que todo desenvolvimento da criança parte da cabeça em direção aos pés, e no que se refere ao movimento, percebemos que os bebês iniciam seu desenvolvimento motor dessa maneira: primeiro adquirindo firmeza e controle da cabeça, seguido pela descoberta das mãos, aprendendo a sentar, ficando em pé com apoio, engatinhar e depois dando alguns passos com apoio, sendo que, por fim, adquirem o equilíbrio total e aprendem a andar.

Claro que não existe o que é melhor nem pior, sendo que esta ordem acima em alguns casos é invertida ou até inexistente. Existem crianças que andam direto, sem engatinhar, e outras que aprendem a andar aos 10 meses e outras com um ano e meio. Sem neuras, cada bebê se desenvolve da sua maneira, cabendo a nós apenas observar e proteger, sem limitar ou forçar seu desenvolvimento.

Pretendo ler mais sobre o assunto, assim que eu adquirir o livro indicado pela pediatra da minha filha, e voltar aqui para escrever mais sobre o assunto. Mas a princípio, o que a antroposofia nos orienta é a não forçar, por quaisquer métodos que seja, já que o ser humano já nasce com suas forças interiores que orientará a criança natural e instintivamente a aprender a se erguer, adquirir equilíbrio e finalmente andar.

E mesmo antes de saber dessas coisas, que estudei recentemente, confesso que eu segui meus instintos, e, como faço com tudo relacionado à Lina, deixei-a solta e livre para aprender a se movimentar. Sou totalmente contra andadores ou qualquer tipo de “aparelhos” para “auxiliar” o processo de aprender a andar. Acho que tudo atrapalha, ao invés de ajudar.

Andador, nem preciso falar não é? Foi proibido recentemente, inclusive, mas acho que mais por questões de segurança do que de ergonomia mesmo. Mas já pensou que a criança tem que aprender a andar no andador, onde o equilíbrio e a posição é de uma maneira, e depois tem que aprender a andar de novo, sem ajuda de equipamentos? Mas é incrível como ainda encontramos aparatos curiosos para fazermos nossos filhos aprenderem a andar mais rápido ou para ajudar a apoiá-los:

 
Equipamento para ajudar o bebê a andar
Mais um Equipamento para ajudar o bebê a andar - pior ainda


Para os pais mais afobados, tendo a dizer: bebês nessa idade já adoram imitar tudo o que fazemos (e assim continuar por alguns anos) então não se preocupem que de tanto ver os adultos andarem, as crianças naturalmente já têm uma força de vontade enorme de andar como nós!
Acho que a natureza é perfeita e sábia demais para termos essa necessidade de usar equipamentos que tentam ajudar ou acelerar processos naturais e instintivos.

O que eu faço é apenas segurar na mãozinha da minha filha, e tento deixa-la apoiada em lugares firmes, como sofá e cama, com suas próprias mãozinhas, sempre que possível. Assim, imagino eu que esteja oferecendo proteção e ao mesmo tempo deixando-a livre para ganhar confiança, conhecer as capacidades e limitações de seu próprio corpo e também para explorar e aprimorar sua coordenação motora.

Que a Lina dê seus primeiros passinhos a seu tempo!

 

“Quando começamos, como educadores, a introduzir coação, por mínima que seja, naquilo que a natureza humana individual quer, quando não compreendemos ser necessário deixá-la livre e sermos apenas os guias auxiliares, prejudicamos então a organização humana para toda a vida terrena.”

Rudolf Steiner

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O nascimento como transição do espírito - Sobre meu ativismo a favor do parto natural/humanizado


Durante a gestação da Lina, li e estudei tanto sobre assuntos relacionados a parto e maternidade, que depois de um tempo me vi seguidora de diversos blogs e sites, e ainda mais, me vi compartilhando em redes socias e conversando com amigos sobre esses assuntos.

A princípio achei que fosse uma consequência natural frente à tantas descobertas estarrecedoras, e que logo passaria. Mas não passou.


Quase um ano depois do nascimento da Lina, minhas leituras se direcionaram principalmente à assuntos relacionados à educação da minha pequena, mas sempre me pego ainda lendo os blogs sobre parto e maternidade e sigo compartilhando tudo sobre parto humanizado na minha página pessoal do Facebook.

 
Percebi mesmo que eu era uma ativista do parto humanizado, e de tudo o mais que se refere à maternidade consciente, quando há alguns dias atrás eu fiquei sabendo, pelo Facebook mesmo, que diversos colegas meus se tornaram pais. Eu os via comemorando o nascimento, a saúde do bebê e da mamãe, e, deslumbrada olhando a foto dos pequeninos, só conseguia pensar: “mas foi parto normal ou cesárea eletiva?”

 Fiz uma retrospectiva em minha mente e notei que raramente as pessoas, quando publicam o nascimento dos seus bebês, comentam qual foi a via de nascimento. E me peguei pensando: “será que sou a paranoica do parto normal?”.

 
Refleti por muitos dias. Porque eu olhava pra fotos dos bebezinhos e só conseguia pensar na forma como eles tinham nascido? Porque eu achava essa informação tão importante? Será que só eu achava isso importante?

 
Enfim, não sei as outras pessoas, mas eu acho extremamente importante a forma como somos recebidos neste mundo. Leio muito sobre espiritismo e acredito em reencarnação, o que faz com que eu me preocupe com o ritual de chegada de nossas almas a este mundo terreno. Eu olhava os bebezinhos recém-nascidos e imaginava suas almas chegando à Terra. Será que eles receberam os hormônios do parto (ocitocina – o hormônio do amor)? Será que eles foram massageados pelas contrações da mamãe? Será que eles acordaram para este grande momento e sabiam que iriam nascer ou simplesmente foram arrancados de seu sono aconchegante no útero materno? E pior, será que eles estavam prontos e maduros para nascer?

 
Eu acho tudo isso muito importante. Considero o nascimento, assim como a morte, uma transição importantíssima de mundo espiritual ao mundo terreno e vice-versa. Porque ficamos tão chocados ao saber de uma morte traumática, mas não nos colocamos no lugar dos bebês para saber se eles tiveram um nascimento traumático?

Bem diziam os Doutores Maximilian e Ric Jones:  “os eventos do nascer e morrer são pontas que se tocam“. "A mesma lógica de carinho, afeto e amor que ele demonstra por aquele que se vai, nós precisamos oferecer àqueles que chegam, assim como para as mulheres que carregam a tarefa de trazer os viajantes cósmicos para a morada terrena."

 
Nessa mesma semana de reflexão, li em uma rede social um comentário de uma mãe que fiquei chocada. Era mais uma daquelas discussões sem-fim, cheias de mimimi, sobre parto normal x cesárea. A tal mãe dizia, com toda convicção, que “garantia que sua filha, nascida de cesárea eletiva, não tinha sofrido nadinha durante o parto”.

 
Pára tudo!!! Como assim? Ela se colocou no lugar do bebê? A bebê dela contou pra ela que o parto foi legal? Será que ela sabe algo sobre o benefício dos hormônios, das contrações? Será que ela sabe o benefício de se não intervir no parto – um processo natural? Não, ela não sabe.

 
Pois é. Tenho pena desta bebê pela recepção dela na Terra. E é com essa preocupação que eu olho todos os outros bebês que vejo nascendo por aí.

 
Não duvido que esta mulher de quem falei acima será uma excelente mãe, que cuidará muito bem da sua filha com muito amor para o resto da vida. Não é disto que estou falando. Estou falando da nossa recepção na Terra. Da transição. De acompanharmos o nosso nascimento acordados, sabendo que algo vai acontecer. Estou falando de nosso primeiro suspiro, nosso primeiro olhar, nosso primeiro toque na pele. Isso não é especial? Isso não deveria ser mais humano? Eu acho que todo nascimento é especial.

 
E apenas para esclarecer, sou totalmente a favor de cesarianas, desde que bem indicadas. Desde que o risco de vida da mãe-bebê seja maior do que o risco de se fazer uma cesárea.
 

E mais, entendo perfeitamente todas as mulheres que escolhem fazer uma cesárea por terem medo do parto normal. Sei muito bem que o parto normal “tradicional” é horroroso. É um desrespeito. É traumático. É triste saber que a tecnocracia hospitalar chegou á esse ponto, de assustar as futuras mamães, transformando algo tão belo em uma cena de terror. Mas pra deixar claro, o que defendo é o parto natural, humanizado, respeitoso – muito raro por aí, mas ganhando força nos dias de hoje.

 
E não, não acho que nós temos o direito de intervir nas vontades de Deus e da natureza.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Relato de Parto Normal Humanizado - O nascimento da Lina e de uma nova família


Segue abaixo, dez meses depois do ocorrido, o meu relato de parto. Li tantos relatos de parto na gestação que me ajudaram muito o meu empoderamento, que eu não podia deixar de escrever o meu. Foi – e ainda é – o momento mais importante da minha vida. Momento para o qual eu me preparei profunda e intensamente, física e psicologicamente...

Gestação e Pré-Natal

Quando me descobri grávida um turbilhão de coisas novas passaram pela minha cabeça e pelo coração – e passam até hoje! Eu me conhecia e já sabia que partiria para algo natural e o menos intervencionista possível. Eu queria parir, eu queria fazer a força sozinha, deixar natureza comandar meu corpo, como acontece há milhares de anos. Não queria ninguém em cima de mim, me dando medicamentos ou muito menos me cortando de lado a lado.

A princípio minha ideia sempre foi o parto na água, mas ao longo dos meses, depois de muita leitura e empoderamento, decidi que o melhor mesmo era não criar expectativa alguma. Cabe dizer aqui que minha vontade de verdade era ter um parto domiciliar, mas como moro em uma cidade com ínfima infra-estrutura e a 160 km de distância de um hospital decente, acabei desistindo logo desta opção, infelizmente.

Então procurei em BH algum profissional que fosse adepto ao parto natural – incrível como é difícil encontrar esses profissionais hoje em dia! Mas graças a Deus alguns deles ainda perambulam pela face da Terra, e então encontrei a Dra Quésia e o Instituto Nascer, junto com todos os outros profissionais que me apoiaram maravilhosamente durante a gestação e parto (doula Isabel, fisioterapeutas Sabrina e Renata, psicóloga Alessia, pediatra Soraya e a obstetra Alessandra).

O Pré-natal transcorreu normalmente sendo que tive pouquíssimos desconfortos – o pior era a prisão de ventre. Engordei apenas 11 kg e dois meses após o parto havia perdido tudo. Fiz fisioterapia para o períneo pois morria de pavor só de pensar em uma episiotomia – graças a Deus não precisei dela (aliás, ninguém precisa). Apenas no final da gestação que um assunto muito delicado quase nos passou despercebido... e as intervenções de praxe que são aplicadas no bebê? Como escapar disso? Conversei com a Dra Quésia e saí em busca de uma pediatra que apoiasse nossas escolhas, e então, apenas duas semanas antes do parto, encontramos a Dra Soraya e estava decidido que ela iria acompanhar a Lina nos seus primeiros suspiros neste lado da vida. Não posso esquecer-me de comentar ainda que durante a gestação escrevemos, eu e meu marido, um extenso plano de parto contendo todas nossas preferências, que eram basicamente nenhuma intervenção em mim e nem no bebê e conversamos com a Dra Quésia, Isabel e Dra Soraya, e então estávamos todos preparadíssimos para que a Lina tivesse a melhor recepção possível durante sua transição para a vida terrena.

O Parto

Eu já vinha sentindo as contrações dos pródomos há algumas semanas... bem fraquinhas e que me fizeram dilatar um ou dois centímetros. Numa segunda-feira de madrugada, às 2:00h, a bolsa estourou. Levantei, fui ao banheiro, constatei a grande quantidade de líquido clarinho saindo, falei pro meu marido, e voltei pra cama. Ele dormiu até as 6:00h, mas eu não consegui dormir, mesmo estando muito calma. Coloquei uma toalha na cama e a água continuou saindo a madrugada toda. Meus pais estavam em casa e então levantamos, tomamos café e avisamos eles que iríamos até BH (4 horas de viagem). Lembro muito bem da última consulta do pré-natal, cinco dias antes do parto... a Dra Quésia fez um exame de toque e disse entusiasmada pra eu ficar tranquila, que estava próximo do nascimento e que eu tinha tudo para ter um parto natural do jeito que eu sonhava, pois a bebê era pequena, e meu colo do útero estava muito macio, o que poderia acarretar em um trabalho de parto super rápido. Então a Dra começou a nos explicar que o bebê poderia nascer no meio do caminho, dentro do carro e nos explicou o que deveríamos fazer caso isso ocorresse! Muito fofa a Dra Quésia!! Eu gostava dela cada dia mais e sempre me sentia mais segura e confiante com ela!

Então entramos no carro e só quando estávamos no meio do caminho, lá pelas 8:00h, resolvi ligar para a Quésia (não quis ligar antes para não incomodar). Ela conversou com a gente e disse que estava voltando de viagem e iria chegar em BH no fim da tarde, e me encaminhou para a Dra Alessandra. Chegando em BH, lá pelas 11 da manhã, fomos direto no consultório da Dra Alessandra que nos atendeu prontamente, com toda sua doçura. Fez um exame toque e constatou 3 cm. Como estava ainda com contrações muito fracas, decidimos juntos que iríamos passear um pouco para engrenar o trabalho de parto. Fomos então ao shopping, nem me lembro qual, e almoçamos e caminhamos muito. E nada das contrações começarem. Três da tarde resolvi assistir ao filme “Jobs” – melhor coisa que fiz pois depois que a Lina nasceu nunca mais consegui assistir a um filme, nem na televisão. Lá pelas 5 da tarde a Dra Alessandra nos telefonou, perguntou como eu estava e pediu pra retornarmos ao consultório. Novo exame de toque e só 4 cm. Continuei muito tranquila e estava disposta a aguardar o início das contrações. Porém conversamos com a Dra Alessandra e decidimos internar para eu poder dormir um pouco, tomar um banho, relaxar e quem sabe ajudar no início das contrações. Fomos ao Santa Fé, onde a Dra Quésia já havia reservado a suíte de parto, aquela com a banheira. Mas antes de internar resolvi tomar um belo açaí na tigela ali por perto. Foi minha última “refeição” antes do parto! Internamos lá pelas 18h, e hoje sei que internei precocemente, mas como eu não tinha casa para ficar em BH, foi a solução que encontrei naquele momento. Logo depois da internação chegou a doula Isabel, queridíssima, chegou e me fez escalda-pés e massagem nas pernas. Eu só iria entender o porque da massagem das pernas após o parto... fiquei um dia inteiro sentindo um desconforto nas pernas e se não fosse a massagem acho que teria sido bem pior! A Dra Quésia chegou logo em seguida, conversamos e continuamos aguardando as contrações começarem.

 


Escalda pés e massagem. Doula é tudo de bom!


Dormimos e lá pelas dez da noite a Dra voltou e nada das contrações começarem. A Dra então sentou ao meu lado e me explicou delicadamente que devido à bolsa rota há 20 horas havia risco de infecção para mim e para o bebê, principalmente pelo fato de eu ter tido uma infecção urinária durante a gestação. Decidimos então pela indução do parto com ocitocina, e perto da meia noite foi colocado o acesso na minha veia. A Quésia pediu poucas gotas por minuto, e poucos minutos após o início do soro as contrações já começaram a se fortalecerem – a Quésia até brinca dizendo que foi psicológico. Tomei pouca ocitocina (pelo menos eu acho) se eu não me engano por uns 20 minutos só. Mas pra falar a verdade eu não aceito muito bem isso até hoje. Eu queria mesmo um parto totalmente natural, mas tinha consciência que ás vezes as coisas podem não sair como esperamos. O que me confortou nesse sentido foi uma conversa que tive com a Isabel, 9 meses depois do parto, em que ela me esclareceu que eu produzi a ocitocina natural e que essa ocitocina chegou até a Lina sim (era minha maior preocupação e meu maior remorso). Ela explicou que se eu não tivesse produzido a ocitocina natural, assim que tivessem tirado a sintética da minha veia, meu trabalho de parto teria parado, o que não aconteceu.

Mas enfim... aí as contrações começaram, não muito fortes... quando começou a doer fui ao banheiro, sentei na bola e depois fiquei na bola embaixo do chuveiro. Aí já tinha perdido a noção do espaço, do tempo, de tudo... mas deveria ser umas 2 ou 3 da manhã. Em um dado momento eu quis deitar, sabe-se lá porque! Grande erro meu. Deitei e foi como se tivessem me colocado numa máquina de tortura - a dor foi insuportável. Foi deitar e querer levantar de novo. Á esta altura eu já estava gemendo bem alto durante as contrações e então a Dra Quésia sugeriu que fizesse um exame de toque, que eu aceitei. Ela fez o exame, olhou pra mim e não disse nada... só pegou o celular e ligou para a Dra Soraya (a pediatra) e ouvi ela dizer: -“Soraya, pode vir que a Katherine já está com 8 cm de dilatação.” Nem lembro se fiquei feliz, nervosa, ansiosa, ou o que. Eu já não tinha mais controle nenhum do que eu pensava, sentia ou fazia. Era só a natureza e os instintos primitivos me guiando. Fui então para a banheira e fiquei um bom tempo de barriga pra cima, toda mergulhada na água. Meu marido, a Isabel e a Quésia ficaram na borda da banheira me acalmando, me dando água de côco para beber. A água quente aliviava muito, mas as contrações já estavam muito intensas.



Apoio do marido, doula e Dra Quésia


No pico das contrações eu gemia e gritava bastante. Pedi anestesia várias vezes, mas eu já tinha avisado meu marido que isso poderia acontecer e tinha orientado ele que não era pra deixar me darem anestesia, mesmo se eu pedisse!! Ele obedeceu e não me arrependo disso! Mas o que me fez desistir da anestesia mesmo foi a Dra Quésia... ela chegou bem perto de mim e disse: - Katherine, olhe à sua volta. Você está num quarto lindo, com banheira, luz fraca, cromoterapia... seu trabalho de parto está evoluindo muito rápido. Você tem certeza que quer colocar aquela roupa de hospital, touca, sentar numa cadeira de rodas e ir pro centro cirúrgico tomar anestesia? Isso pode travar toda sua evolução do trabalho de parto e além disso vai demorar uns 30 minutos e pode ser que o bebê nasça lá!

Bem, desisti na hora e não pedi mais anestesia. Continuei na banheira mas mudei pra posição de “sapinho”. A Isabel me lembrou de tocar a cabecinha da Lina pra ver onde ela estava, conforme eu havia pedido no meu plano de parto. Toquei, senti a cabecinha dela bem próxima e foi uma sensação indescritível. Eu também via a descida da Lina através de um espelhinho que elas colocavam pra eu ver.





Eu era livre para escolher a melhor posição para o parto. Isso sim é respeito!


Lembro com os olhos cheios de lágrimas de uma hora em que eu gemia e gritava muito, no pico de uma contração, e a Quésia estava segurando minha mão na borda da banheira, aí eu olhei pra ela que estava com uma touquinha verde com uma florzinha, e disse: - “Doutora, dói demais!”. E ela olhou no fundo do meu olho e só respondeu, com todo aquele coração de mãe que já pariu naturalmente: -“Eu sei!”

Aquilo me deu uma força, me recarregou as energias de uma modo inexplicável. É engraçado, mas é realmente uma força que a gente não sabe da onde vem. Uma força que só as mulheres conhecem, que sei lá, deve vir de nossa ancestralidade, de nossa natureza feminina, de mulher parideira.

Logo depois eu cansei da posição de sapinho, pois meus joelhos doíam no fundo da banheira. Então eu quis sair da banheira e pedi o banquinho de parto. Sentei lá, com meu marido me apoiando e abraçando atrás. O espelhinho as vezes aparecia por lá e eu podia ver a cabecinha da Lina despontando. Não demorou muito, fiz algumas forças. Confesso que estava bem ansiosa e até um pouco desesperada. Soltei um gemido estranho uma hora e a Quésia disse animada: - “isso, esse gemido que vai fazer ela nascer.” (lembrei de vários textos que li dizendo sobre esse “gemido primitivo” que as mulheres dão durante o expulsivo.)

Momento do expulsivo no banquinho de parto, com o apoio do marido.


Agarrei a perna do meu marido, fiz mais uma força, de olhos fechados, e meu marido todo emocionado me disse: - olha lá embaixo! Olha nossa filha chegando!

Olhei e vi a cabecinha da Lina pra fora e ela começando a fazer o giro. Pedi pra Quésia puxar e tirar ela logo (eu nunca teria pedido isso em sã consciência). Claro que a Dra Quésia não puxou a Lina e deixou ela vir no tempo dela. Fiz mais uma força e o corpinho nasceu – não senti nada daquele tal círculo de fogo... senti mesmo foi um grande alívio! Era muito bom!! Assim que nasceu a Dra Quésia pegou ela e colocou imediatamente no meu colo. Eram 5:00h da manhã. Eu estava tão em estado de choque que só consegui olhar pra pediatra e perguntar se estava tudo bem.

Lina foi colocada imediatamente no meu colo após nascer!



A Lina ficou encolhidinha no meu colo, com aquele cheiro m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o que eu queria engarrafar. Não chorou e já foi abrindo os olhinhos, toda espertinha. Logo após o nascimento os passarinhos começaram a cantar e lembro disso com muito carinho... Não sei dizer quanto tempo ela ficou no meu colo, mas logo que o cordão parou de pulsar meu marido o cortou.

Papai cortou o cordão após parar de pulsar... quanta emoção!


Secaram ela delicadamente e eu mesma que pedi pra pegarem ela pois eu queria deitar - estava bastante dolorida. Eu achava que tinha lacerado tudo lá embaixo!! Pegaram a Lina e colocaram no berço aquecido e eu fui pra cama pra Dra Quésia e Alessandra me examinarem. Doeu muito pra placenta sair e continuei bem dolorida alguns minutos depois. Tanto que fiquei até bem nervosa e não queria que as Doutoras colocassem a mão em mim. A Isabel segurou minha mão me dando forças e a Alessandra chegou do meu lado e conversou comigo com uma ternura das deusas. Explicou que elas tinham que examinar lá dentro, pra ver se houve laceração e que não podia esperar muito tempo caso tivesse que dar pontos. Eu acalmei, mas estava doendo muito e eu não queria que botassem a mão em mim. Então a Dra Quésia sugeriu que eu mesma me tocasse para elas poderem me examinar, pois assim eu saberia o limite da minha dor. Eu fiz e então constataram que não houve nenhuma laceração. Nadinha de nada. Nenhum ponto. Sem episiotomia e zero laceração (balde de água fria pra quem acha que bebês só nascem se fizer episiotomia – dentro deste grupo, muitos médicos).

Nesse meio tempo meu marido e a Lina haviam ido ao berçário para pesar e ser medida (2,890 kg e 48 cm). Graças a Soraya ela escapou do colírio nos olhos, conforme eu havia solicitado. Voltou pro meu colo toda cheia de vernix do jeito que eu havia pedido – só tomou banho no dia seguinte. Coloquei ela no meu peito e ela começou a mamar. Ficamos juntinhas, pele a pele, por muitas horas. Três horas após o parto levantei e tomei um banho sozinha, normalmente. Papai trocou a primeira fralda e colocou a primeira roupinha. Voltamos para nossa cidade, há 4 horas distância, no dia seguinte. Era muita alegria e muito amor. O maior amor do mundo. Nossa família havia nascido.

Família unida e feliz três horas após o nascimento!


E agora, para mim, cujo objetivo de vida era apenas viajar, nada mais faz sentido. Nenhuma paisagem me enche tanto os olhos quanto ver o rostinho dela e seu olhar curioso descobrindo o mundo. Nenhuma viagem é tão emocionante quanto conviver diariamente com este novo pequeno ser, que eu gerei, pari e que me transformou em uma nova pessoa. Cada dia agora é um novo dia, mais maravilhoso que o anterior.

Bem que dizem que quando nasce um bebê, nasce também uma nova mulher.


PS. Agradecimentos aos profissionais do Instituto Nascer envolvidos, que promoveram a mim e à Lina um parto respeitoso, humanizado e “amorizado” – graças a vocês, hoje, quando vejo um vídeo de parto “normal” na TV, eu fico tão horrorizada que acho que aquilo sim é que coisa do período das cavernas!

Agradeço também aos responsáveis pelo meu empoderamento: os maravilhosos contos dos livros do Dr Ric Jones e à todos os blogs que me educaram e influenciaram (das mamães Gabi Sallit, Anne Rammi, Ligia Moreiras, Kalu Brum, dentre outras). E agradeço ainda à minha amiga-irmã Mariana Camargo por me ouvir e discutir longamente todos os detalhes sobre parto normal/natural.

PSII. Sobre a placenta, inicialmente eu não tinha nenhum objetivo do que fazer com ela. Eu nem tinha pensado nisso, mas quem nos fez pensar sobre o fim que daríamos a ela foi nossa doula Isabel. Congelamos no próprio hospital e trouxemos pra nossa cidade. A placenta foi plantada na mata, no mesmo dia em que os padrinhos da Lina a batizaram em uma cachoeira. Obrigada Isabel, por ter nos questionado sobre o assunto e nos orientado quanto a isso. Lembraremos para sempre com muito carinho do local onde a placenta foi plantada. É uma simbologia imensa, que eu realmente não poderia ter deixado passar em branco.